Vinte e três alunos da escola integrada do Serviço Social da Indústria (SESI) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) de Parangaba, em Fortaleza (CE), foram recentemente desafiados a trabalhar em um projeto sobre Copa do Mundo que integrou as quatro áreas do conhecimento abordadas no ensino médio: linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas e ciências da natureza.

Durante o primeiro semestre, tiveram a oportunidade de assistir a uma aula conjunta dos professores de geografia, que hoje integra a área de ciências humanas e sociais aplicadas, e matemática sobre a população do Brasil e da África do Sul, que foram os dois últimos países que sediaram o evento. Enquanto o professor de matemática abordava conteúdos de estatística para tratar de taxa de natalidade, o de geografia trabalhava com questões de perfil populacional, um interagindo com o outro em sala.

O aprendizado contextualizado e integrado é uma das novidades trazidas pelo novo ensino médio, que começou a ser implementado pelo SESI e SENAI neste ano em cinco estados – Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás e Espírito Santo – com 226 alunos. “É um novo começo para mim, que antes estudava os assuntos de forma separada. Dessa forma integrada é melhor, pois permite um olhar mais amplo sobre os conteúdos”, declara Daniel Saldanha, 15 anos, que está no primeiro ano do ensino médio.

Isabelly de Oliveira Lima, 15 anos, está bastante satisfeita com a integração de áreas do conhecimento. “É muito mais prático estudar assim e os professores trazem os assuntos para o nosso dia a dia, o que torna o aprendizado mais fácil. Até os alunos mais tímidos passaram a participar mais das aulas, contribuir com opiniões”, diz. “Esse novo método fez com que Isabelly se interessasse mais pelos estudos. Ela realmente está mais dedicada”, avalia o pai, Raimundo Nonato. “Espero que minha outra filha também tenha interesse em estudar aqui.”

No próximo ano, a experiência pedagógica se estenderá para a rede do SESI em todo o país. De acordo com Danielle Santos da Silva, coordenadora pedagógica responsável pela implementação do novo ensino médio no SESI Parangaba, essa é uma mudança de abordagem curricular. Além disso, o novo currículo é integrado com a educação profissional em eletrotécnica, ministrada pelo SENAI. “A estrutura do SESI e do SENAI aqui no Ceará é integrada e, para o novo ensino médio, os professores das duas instituições começaram a fazer planejamento de forma conjunta”, conta Danielle.

Com isso, destaca a coordenadora, os alunos percebem a continuidade dos conteúdos nas diversas áreas do conhecimento e os professores conversam e planejam juntos. "Tudo isso faz com vejam sentido nos assuntos abordados”, complementa Danielle.

INTEGRAÇÃO – Semanalmente, são realizadas reuniões entre professores de todas as áreas do conhecimento e, uma vez ao mês, entre docentes do SESI e SENAI, com apoio de analistas e coordenadores pedagógicos. Além disso, eles interagem em grupos virtuais em que podem trocar experiências e planejar formas de abordar novos conteúdos com os alunos. O professor Francisco Eurivan Costa Filho, especialista em Língua Portuguesa e Literatura, conta que nas reuniões cada professor fala sobre o tema que pretende trabalhar no período e depois identificam formas de integrar todas as questões em um projeto interdisciplinar.

“A forma como aprendemos há 20 anos não faz mais sentido. Esse processo de maior interação entre as áreas de conhecimento obriga o professor a estar mais aberto a novidades e ter de abordar temas além da sua área de especialização”, destaca Filho. Ele diz que essa interdisciplinaridade já é exigida no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). "Na prova de redação, por exemplo, é preciso perpassar por todas as áreas de conhecimento para tratar de um único tema”, completa.

A professora Elaine Cristina da Silva Gomes, especialista em Física, que integra a área de ciências da natureza, ingressou na rede do SESI neste ano. Para ela, a proposta de integração entre áreas é algo totalmente novo, que exige mais tempo de planejamento dos professores, mas permite aos alunos ter aulas mais dinâmicas e empolgantes. “Sempre tive o desejo de trabalhar de forma contextualizada e integrada com outras áreas para que os alunos percebam que a Física é algo muito bacana e faz parte do dia a dia deles”, ressalta.

Elaine conta que teve oportunidade de trabalhar com a professora de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas a Revolução Industrial, que é um tema muito abordado no vestibular. "Enquanto ela trabalhava aspectos históricos, eu trabalhava a Física sob o aspecto das máquinas térmicas”, relata.

Para o aluno Ivo Fábio de Sousa Cidrão, 15 anos, apaixonado por Física, o novo método tem contribuído para despertar o interesse por outras áreas de conhecimento que não tinha tanta afinidade. “Antes não gostava de História, mas quando cheguei aqui vi essa disciplina inserida em um contexto amplo, que me chama a atenção. Até a forma como os professores abordam aspectos históricos é diferenciada e torna a aprendizagem mais bacana e o conhecimento mais fácil de ser absorvido”, diz Ivo.

EXPERIÊNCIA – A maioria dos profissionais envolvidos nessas mudanças já tem experiência com a Educação Básica articulada com a Educação Profissional (EBEP) ou a implementação da nova metodologia de educação de jovens e adultos. A diferença entre a nova metodologia e o EBEP é que, enquanto no EBEP o curso é ofertado no contraturno e a aprovação no ensino regular não está vinculada à aprovação no curso de educação profissional e vice-versa, no novo ensino médio o currículo e o sistema de avaliação e aprovação são integrados na grade horária regular estabelecida em lei.

A proposta pedagógica prevê que, no primeiro ano, já tenha início uma preparação para o mundo do trabalho que inclui formação para as profissões da indústria, orientação profissional e desenvolvimento de competências socioemocionais. No segundo ano, além das áreas de conhecimento, os alunos terão acesso aos fundamentos e práticas de formação para a área industrial de energia. Já no terceiro ano, a carga horária prevista para a formação técnica e profissional é dedicada às aprendizagens específicas de Técnico em Eletrotécnica, com possibilidade de certificações intermediárias ao longo do itinerário formativo.

Ao todo, são 3 mil horas para todo o ensino médio, que começa com mais ênfase nos conteúdos gerais e, gradualmente, aumenta-se o número de horas-aula para a formação técnica e profissional. No primeiro ano, são 800 horas para conteúdos gerais e 200 horas para aulas sobre iniciação ao mundo do trabalho. No segundo ano, são 600 horas para conteúdos gerais e 400 horas para formação técnica e profissional. No terceiro ano, isso se inverte: são 400 horas para formação geral e 600 horas para habilitação técnica.

O professor de educação profissional Jorge Augusto Gonçalves Alves destaca que os conhecimentos das demais áreas do conhecimento são utilizados nas aulas de Eletrotécnica. No primeiro ano, quando os alunos têm aulas de introdução ao mundo do trabalho na indústria, são abordadas questões de lógica e matemática, física e até de linguagens, quando são elaborados os relatórios. “Isso facilita a assimilação dos conteúdos pelos alunos porque eles não estão vendo a parte técnica de forma separada. Muito pelo contrário: eles estão sendo assessorados por todas as demais áreas para também assimilar a parte técnica”, avalia.

Da Agência CNI de Notícias